
Xilogravura nº 16 de 30, 40x28cm
Caixa Cultural
O germânico Hansen Bahia tornou-se brasileiro como poucos ao adotar a Bahia em seu nome e também como terra. Soube exprimir no talho das suas goivas sobre a madeira o sentimento, a textura, a realidade de um Brasil que não deve se esconder apenas sobre suas paisagens paradisíacas. “O pescador e a família” de 1958 é uma xilogravura, arte antiga que Hansen diz ser perfeita para exprimir as idéias modernas, e nela mostra como é possível tornar visual a sensação de vida de um pescador baiano em sua casa, junto de sua família, trazendo o peixe e entregando à sua mulher, como faz todos os dias.
As cores, juntamente com a expressão (ou a falta dela) das personagens, a posição dos corpos, os traços fortes e marcados, o aspecto de textura transmitido pela xilogravura e os corpos másculos e bem demarcados da obra sintetizam essa rotina: o barro constante nas casas simples, onde após um dia de intenso esforço físico o pescador chega e entrega para sua esposa a pesca do dia, e ela se encarregará de preparar a comida e limpar os peixes para a venda, assim como é mostrado ao fundo as mulheres da aldeia, caracterizadas com a cultura local de carregar vasilhames sobre as cabeças.
A cor cinza-azulado da esposa e sua postura cabisbaixa não demonstram tristeza, mas sim uma rotina apática com a qual o povo de Cachoeira está acostumado a viver. Tanto que o peixe e a personagem são da mesma cor, se misturam no ambiente, um se relaciona ao outro de forma tão comum que acabam por se tornar peças únicas. Ao mesmo tempo, a pele negra do marido tem a mesma tonalidade que o mar, onde passa todos seus dias.
A quantidade de traços feitos pela goiva na matriz da xilogravura, no corpo do pescador, sintetiza o calejamento proporcionado pelo trabalho duro, assim como o desgaste da casa e das roupas.
Toda a cena é envolvida em duas colunas negras, transformadas em uma moldura que prende a visão do espectador na realidade da Bahia da época, de personagens gravados em estilos expressionistas, excluídos sociais da arte que abraça a beleza ideal, impondo uma fictícia neutralidade da arte.
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