terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Controle (Isabella)", Regina Parra, 2008

Por: Vivian Bortolotti















Óleo e cera sobre papel, da 12º Semana de Fotografia de Ribeirão Preto, MARP

Aparentemente uma cena cotidiana: uma família chegando ao supermercado. Vê-se de um ângulo superior um hall com duas escadas rolantes que dividem o campo visual. Do lado esquerdo o grupo de figuras humanas, uma família. O “pai” empurrando o carrinho de supermercado com duas crianças dentro dele – um menino de costas, apoiando-se na grade do carrinho e voltado para o “pai”, a menina sentada na lateral voltada para frente – e atrás do grupo a figura de uma mulher, supostamente a “mãe”. A imagem é desfocada, o que nos faz crer ser uma imagem de vídeo, dessas imagens de câmera de segurança de supermercados. Uma imagem “pouco artística”, assim como todas as outras dessa série “Controle” de Regina Parra expostas na 12ª Semana de Fotografia do MARP, o que torna mais intrigante a escolha dessas imagens por não se tratarem de fotografias. Mas o espanto maior dá-se ao lermos a legenda que revela a técnica utilizada pela artista: óleo e cera sobre papel. E um sentimento que há muito deveríamos ter superado quanto a valorizar uma obra pela qualidade técnica de representação do real com tamanha verossimilhança, é inevitável. É necessário algum tempo de observação diante das pinturas de Regina para compreender que são pinturas e não fotografia. Regina faz uma pintura sutil, esfumaçada, deixando imperceptível a presença do pincel, e a camada de cera utilizada sobre a tela tira o brilho natural da tintas acrílicas e a óleo, dando uma opacidade homogênea que consegue enganar nossos olhos. Mas ainda assim, e também por isso, a obra continua intrigante: porque esta cena corriqueira? Porque a representação por meio da pintura? O “congelamento de um momento” através da pintura já não havia sido superado pelo surgimento da fotografia? A legenda ainda nos dará mais dicas: os títulos, todos iguais, com uma observação em parênteses “Controle (Diana)”, “Controle (Isabella)”...
Alguns podem demorar mais do que outros para reconhecer esta imagem com que a mídia nos bombardeou por tanto tempo, a última imagem da menina Isabella Nardoni, assassinada pelo próprio pai em 2007. Assim como “Controle (Diana)” utiliza-se da imagem da câmera de elevador do Hotel de onde a princesa Diana saiu poucos instantes antes da tragédia. E então o espanto transforma-se num turbilhão de questionamentos quanto ao bombardeio diário que sofremos de imagens pela mídia, a memória que temos sobre elas, ou a ausência de memória sobre estas imagens devido ao volume de informação ao qual estamos expostos, ou ainda uma discussão sobre o excesso de controle sobre a vida privada através destas câmeras de monitoramento em áreas públicas. O uso de um recurso já ultrapassado de fixar uma imagem através da pintura nos aparece como semente de uma reflexão muito maior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário